Créditos/Fonte: Um conto erótico de Marlon
Claro, voltei para sala todo bobo por ter finalmente conseguido falar com o garoto. Ele me causava ansiedade e uma vontade de impressioná-lo.
A aula, do mesmo professor do nosso primeiro dia, era sempre muito divertida e o Caio, como já estava familiarizado com aquela aula, sempre soltava uma piadinha para descontrair. O bom era que ele não precisava de muito esforço para ser humorista e nem fazia piadas de mal gosto. Ele é o tipo de cara que consegue agradar gregos, troianos e a mim.
O professor resolveu fazer uma dinâmica com a turma e a dividiu em equipes. Ele deixou que nós mesmos escolhêssemos os nossos companheiros.
De longe, ouço uma voz agradável me chamando.
– Marlon, vem para cá! – gritou o Caio do canto da sala.
Imaginem o meu coração como ficou naquela hora. Nem imaginava que era gay e já me acostumava com aquele sentimento forte que sentia por ele.
– Chega aí, Marlon, vamos fazer esse negócio aí.
– Pode deixar. – disse, me sentando perto do grupo, feliz da vida.
– Gente, esse é o Marlon. Vocês conhecem, né? – disse o Caio.
Todos disseram que sim, mas na verdade era o instinto que o Caio tinha de entrosar todo mundo, de envolver as pessoas. O trabalho era simples, ou pelo menos parecia. A gente teria que escolher um produto, ou inventar um e fazer uma propaganda para todos na sala. Era bem simples. O difícil foi achar o produto.
– Eu acho que a gente tem que pegar um produto que já faça sucesso, aí não tem erro. – falou a Claudinha.
– Não, a gente tem que inventar um, porque inventado é mais engraçado e a gente pode atribuir o que quiser ao produto e pôr um nome engraçado. – disse o Caio.
– É, deve ser legal. – concordou a Ana Luíza.
– Mas o que seria? Hum… nossa! Não me vem nada na cabeça… Diz aí, Marlon.
– Eu, Caio?
– É, cara, você. Tem alguma ideia?
Ele ficou me olhando e fiquei super sem graça. Essa era a minha chance de impressioná-lo finalmente, mas nada vinha à minha cabeça também, até que tive uma ideia:
– E se a gente inventasse um celular de mil e uma utilidades?
– Fala mais. – disse o Caio, interessado.
– Ah, tipo, celular hoje faz tudo: tira foto, filma, tem joguinho e outras coisas. A gente poderia inventar um celular que fizesse um monte de coisa impossíveis.
– Ah, gostei, gostei. – disse a Claudinha.
– É, eu também. Poderia ser um celular que passa café, manda fax, faz faxina e tal. Gostei. Mandou bem!
Quando o Caio disse isso, fiquei todo sem graça. Pensei comigo mesmo: “conquistei um amigo!”.
– Mas que nome a gente dá? – perguntou a Ana Luiza.
– Ah, que tal Super-Master-System-Surround-Resort-King Size-Pop Center-Plus-Mobile Phone? – disse o Caio.
É claro que foi imediatamente aprovado. Ele tinha o dom de fazer todos gostarem dele e das ideias malucas que ele tinha.
Na hora da apresentação só deu ele, claro. Só o momento em que ele disse o nome do nosso produto foi o bastante para todos caírem na gargalhada. E ele todo sério, posudo, mostrando o celular e falando das funções.
– Ele é Resort porque, se por acaso você se perder no meio da mata… Vai saber lá o que você faz no meio da mata, né? Mas isso é problema seu, não nosso… aí você aperta o botão verde, selecionando a função FofaBed e pode dormir à vontade…
Nem preciso dizer que fomos super aplaudidos. Ele tinha mesmo talento para a coisa.
Depois, no fim da aula, ele veio falar comigo:
– Cara, a sua ideia foi genial! – ele disse todo empolgado.
– Minha? Sua ideia…
– Mas foi você quem deu a ideia do celular.
– Ah, mas você que deu o nome e botou as funções.
– Admita, você é dez. Até porque você deu a ideia do celular já pensando nisso mesmo, eu só dei o nome.
E a gente ficou nessa de dar o crédito um para o outro. Eu ficava vermelho toda vez que ele me elogiava.
Era estranho isso. Mesmo ficando todo bobo perto dele, tinha o instinto de protegê-lo. Ele era mais magro, mais fraco, aparentemente mais frágil e mais sensível. Mas todo o seu humor tirava essa imagem dele. Mesmo assim, eu queria estar sempre por perto, para que nada de mal o acontecesse.
Sensações estranhas para um hétero e para o primeiro contato.
Longe do Caio eu era mais seguro, mais “fortão”, mais “machão”, inclusive com a Laís e os caras, meus amigosE a faculdade, amor? Tudo bem?
– Tudo. Conheci um cara super legal. Caio, o nome dele. É uma figura… hahahaha
– Que bom, fez amigos. Tem muita menina?
– Ciúmes?
– Eu não, só quero saber.
– Sei… ôh, tem mais mulher que homem.
– Eita!
– Hahahahaha é verdade.
Não falava muito da faculdade para Laís porque ainda estava no começo e também porque ela morria de ciúmes das meninas do meu curso.
Sempre tive uma fama não legal de pegador, embora não fosse.
Isso vai parecer muito arrogante, mas sempre foi mais fácil as meninas darem em cima de mim, do que eu delas.
Mas por favor, não pensem que é pretensão, é a verdade. Mas sempre fui fiel. Tenho motivos para ser.
Um caso de infidelidade conjugal na minha família me traumatizou muito e por isso nunca traí.
Mas fama é fama e quando se pega…
E a Laís morria de medo disso. Mesmo não tendo motivos. Mas não posso negar que dava as minhas olhadas e que muitas vezes era cantado na faculdade.
A minha família é muito conservadora.
Meu pai é daqueles machistas que acham que mulher no volante é perigo constante e que homem que fala fino está precisando de uma mulher para ver se “conserta”.
Mas não é só ele; todos os meus tios e primos, e até primas são assim. Meu irmão mais velho nem se fala. Ele é o clone mais jovem do meu pai no jeito de ser e na aparência. Mas nunca me senti acuado com essa situação, afinal, pelo que me constava, eu não era mulher e nem homossexual.
Sempre fui machão também. Perdi a virgindade com 14, com uma menina que eu “namorava” na escola. Sempre namorei muito, fiquei para caramba e sempre fui muito descolado. Tive muitos amigos homens e nenhuma amiga mulher. Toda menina que se aproximava de mim, se eu não estivesse namorando, ou ficava ou me afastava.
Sei; é grosseria minha, mas era assim a minha vida de adolescente.
Comecei a sair cedo. Quando minha mãe viajava para casa dos meus avós, porque eles são doentes, meu pai permitia que eu trouxesse meninas para casa e deixava que elas dormissem no meu quarto. Como um filho de machão, nunca namorei sério com essas meninas com quem transava de primeira. Até poderia transar mais vezes, mas nunca assumir compromisso.
De preferência, assumia compromisso com meninas virgens. Foi assim que conheci a Laís. Foi numa brincadeira de girar a garrafa. Eu estava afim de namorar sério, com uma menina séria, mas não dava para sair por aí perguntando quem era virgem. Mas nem precisei perguntar, pois quem perguntou foi o Vinícius. A garrafa girou e caiu pergunta para o Vinicius e resposta para Laís.
– Você é virgem? – perguntou o Vinicius.
– Sou.
Até então a Laís nunca tinha despertado meu interesse, mas depois que soube que ela era virgem, decidi investir nela e, quem sabe, começar um namoro.
Depois disso foi fácil. A gente começou a namorar e eu finalmente estava firme com alguém há mais de dois meses. Meus namoros nunca duravam. A minha fama não permitia.
Bom, acho que deu para sacar que não dava para desconfiar da minha masculinidade. Era o típico hétero baladeiro de plantão, gente fina, fiel, acima de tudo, mas pegador quando estava solto no mundo. Quem faria diferente?
Por isso que às vezes me inquietava essa minha fixação no Caio.
Mas como tinha certeza da minha sexualidade, não achava que isso era paixão ou coisa parecida.
Então comecei a relaxar quanto a esse sentimento que nutria por ele e deixei rolar.
Dias passam e vejo a nossa amizade se fortalecendo. Ele passou a frequentar a minha casa e eu a dele. Começamos a compartilhar os amigos e ficávamos mais próximos a cada dia.
Adorava o nosso jeito de ser, tão unidos, tão grudados. A gente tinha os mesmos gostos por música, comida, lugares, sonhos…tudo! Era incrível.
Ficava com ele e a hora passava rápida como um cometa apressado.
Até abandonei, sem querer, alguns amigos para que eu e o Caio ficássemos mais juntos. E era o que acontecia a cada dia.
Meu pai começou a não gostar desse “grude”. Estranhou. Mas ele tinha certeza da minha sexualidade, então ele começou a desconfiar do Caio.
– Acho que esse Caio… hum, sei não! – disse o meu pai.
– O que foi, seu Elias, qual é a bronca? – disse descontraído.
– Vocês são tão grudados…
– É né? O Caio é tão legal!
– Legal demais para o meu gosto.
– Como assim?
– Homem com homem dá lobisomem.
– Nossa, pai, você acha mesmo que a gente… – meu pai interrompe.
– De você não acho nada, mas esse Caio anda muito por aqui. Esse menino joga bola?
– Ele não gosta de futebol.
– Homens de verdade gostam.
– Ah, nem todo homem, né pai?
– Você mesmo, você prefere vôlei, mas joga uma pelada muito bem jogada.
– Ah, mas só porque ele não gosta de futebol, não significa que ele seja boiola.
– Enfim. De você eu sei. Pelo menos se ele tentar alguma coisa com você, pode dar uma surra nele. Agora cuidado para não bater muito forte. Ele pode acabar gostando.
Não gostei nem um pouco das insinuações do meu pai. Adorava o Caio e não admitia esse tipo de coisa contra ele. Mas era o meu pai né? Não poderia enfrentá-lo, somente abaixar a cabeça e ser mais cauteloso.
Mas desse dia em diante passei a olhar o meu pai com outros olhos.
Era estranho sentir que não gostava do meu pai por causa de uma “brincadeira” que ele tinha feito com outro cara.
O que o Caio era além de um bom amigo?
E depois, homens fazem esse tipo de brincadeira uns com os outros, se chamam de viado “E aí viado, beleza?”. Até eu faço isso com os meus amigos. Mas o Caio era diferente. Sentia que devia protegê-lo. Era maior e mais forte e tinha que prestar socorro para ele. Mas socorro de quê? De quem?
Só sei que não admitia, dentro de mim, que o meu pai, ou qualquer outra pessoa desrespeitasse o Caio.
– Brincadeira sem graça, pai. – disse meio bravo.
– Ah, que besteira. Mas ó, fica de olho aberto com esse Caio. Esse menino é meiguinho demais para o meu gosto.
Fiquei com muita raiva do meu pai nesse dia e resolvi sair um pouco de casa, para esfriar a cabeça. Liguei para Laís e ela disse que tinha uma festa chata pra caramba que ela havia sido convidada.
– Ah, eu lembro. É uma festa de 15 né? – perguntei para Laís.
– É, é sim, vamos? Sou obrigada a ir. Sou uma das quinze damas.
– Nossa, que coisa mais brega.
– Para, não ria de mim! – disse a Laís já rindo daquela situação constrangedora – Mas nem vou te dar atenção, vou ficar o tempo todo de fru-fru com a aniversariante e tals.
– E o que eu faço?
– Não sei.
– Ah, posso convidar um amigo? Aí ele fica comigo na mesa. Que tal?
– Tá, tudo bem, chama quem você quiser. Agora deixe-me ir porque ainda vou ao cabeleireiro. Beijo.
Eu liguei para o Caio, convidando-o para a festa. Ele resistiu. Não é muito de sair e muito menos de sair para ver pessoas com quem ele não tem intimidade. A cada resposta negativa dele, meu coração ficava mais apertado. Mas acabei o convencendo a ir comigo. Fiquei muito feliz.
Quando chegamos à festa, a Laís já estava lá toda arrumada e bonita. Fui falar com ela.
– Amor, está tão linda! – disse elogiando.
– Ai, bobo, obrigada! – disse ela me abraçando.
– Está sim. Olha, esse é o meu amigo, o Caio.
– Oi, prazer. – disse o Caio dando dois beijinhos.
– Ah, o famoso Caio. – disse a Laís.
– Famoso?
– Marlon vive falando de você.
– Espero que bem, então.
– Hahahahaha, idiota, é claro que falo bem de você né? – disse, abraçando o Caio.
Depois das apresentações, a Laís não me deu mais atenção porque era uma das quinze damas da aniversariante.
Nem me importei, afinal, estava com o Caio ao meu lado.
Escolhemos uma mesa e sentamos. Os garçons foram servindo bebidas, peguei dois copos de refrigerante pra gente tomar
– Valeu, Marlon.
– Ah, bobagem.
Ficamos ali bebendo e não dissemos nada um para o outro. Já estava começando a ficar preocupado porque a impressão era de que o Caio estava achando tudo muito chato. E eu, é claro, não poderia deixar que isso acontecesse, afinal, quem o chamou para essa festa fui eu.
Se por acaso ele achasse tudo um saco, nunca mais aceitaria um convite meu de novo. Fiquei muito aflito com essa ideia, não poderia deixar o Caio desse jeito.
– Então, Caio, de olho em alguma menina?
– Não. São todas muito novas, exceto sua namorada.
– Ah, mas tem umas meninas ali, olha. – apontei com o dedo – Elas são da nossa idade.
– É verdade.
– E aí, está afim?
– Não.
– Ah, não sejá tão gay.
– Só porque não estou afim de ficar com alguém hoje, não significa que eu seja gay, Marlon.
Me senti tão mal quando ele disse isso. Me doeu o coração.
Não poderia magoá-lo. Não eu.
Fiquei muito sem graça. Quis logo me desculpar com ele:
– Desculpa, cara, não queria encher o seu saco.
– Não encheu.
– Você ficou visivelmente chateado comigo agora.
– Não fiquei.
– É claro que ficou. Desculpa. A gente é tão amigo.
– Aham…
– Ah, sabe do que mais? Laís viaja esse fim de semana com os pais, vão visitar uma tia dele que mora em Goiás. A gente poderia sair durante esse fim de semana, coisas de homem, só nós dois. O que você acha?
– Coisas de homem?
– É, coisa que homem faz quando a namorada está fora.
– Tipo chifrar?
– Não, não faço isso. Tipo jogar bola.
– Você sabe que não sei jogar.
– Mas pode aprender…
– Mas além de não saber, também não gosto.
– Pode aprender a gostar.
– Meu pai já tentou fazer isso. Me disse que futebol era coisa de homem e tal. Me levava no estádio, mas nunca gostei, não é agora que vou gostar.
Outra bola fora com o Caio. Ficava a cada segundo mais aflito com aquela situação. Não poderia chatear o Caio. Não me perdoaria se fizesse isso. Tudo o que queria era que ele me achasse o máximo, queria impressioná-lo e ser o melhor amigo que ele já teve na vida.
Depois desse papo, ficamos calados mais uma vez. Aquela situação já estava constrangedora. Mas ficou pior quando chegou a hora da valsa das damas da aniversariante. A Laís veio correndo me puxar para dançar a valsa.
– Vem, Marlon!
– Mas…
O Caio ficou lá sozinho e eu dançando com a Laís
A valsa demorou muito e eu ficava mais preocupado. Quando acabou, a Laís me dispensou.
– Pronto, pode voltar para mesa. Desculpa, não vou poder te dar atenção, mozinho.
– Tudo bem, Laís, eu entendo.
Nos beijámos e voltei para a mesa. Comecei a puxar papo com o Caio de novo.
– Ai que coisa chata essa festa de quinze né? Sempre tem essas breguices.
Mas ele não falou nada. Assustei ainda mais.
– Tudo bem?
– Tudo. Eles servem bebida aqui?
– Bebida alcoólica?
– Sim.
– Não sabia que você bebia, Caio.
– Bebo muito pouco, mas não sou um beberrão. Bebo vinho, caipirinha… essas coisas. Cervejá não, ou seja, não vivo bebendo.
– Ah tá.
– E então, eles servem?
– Não sei. Deixa eu ver aqui.
Fui correndo perguntar para a prima da Laís, que também estava na festa, se tinha bebida. Era a minha chance de impressionar o Caio.
– Está aqui. Caipirinha.
– Não precisava ir buscar para mim. – disse o Caio todo tímido.
– Precisava sim, sou praticamente seu anfitrião.
Ele agradeceu com um sorriso e foi tomando a caipirinha.
– Quer mais?
– Não, senão fico bêbado.
– Com um copo só? Você é fraco hein? – brinquei.
– Não sou fraco, até aguento muito, mas se beber mais, vou querer mais e aí sim fico bêbado.
– Se você aceitar beber, bebo junto com você. Topa?
Ele aceitou e fui buscar dois copos. Quando voltei para mesa, percebi que o Caio estava muito arrumado. Bonito mesmo. Vestia uma camisa de botão azul marinho e uma calça social preta. A roupa ficou perfeita nele.
Na verdade, tudo caía bem nele. E ele estava uma graça com os cabelos úmidos e penteados para trás e as bochechas um pouco rosadas. Enfim, o Caio é o tipo de menino que a gente se apaixona por ser fofinho.
– Aqui estão os nossos copos.
– Você quer me ver bêbado mesmo, hein?
– Ah, deixa de bobagem e bebe logo.
Fomos bebendo, até que a prima da Laís vem à minha mesa com outra menina.
– Marlon, não vai apresentar o seu amigo?
– Essa é a Kátia, prima da Laís.
– Oi, prazer, Caio. – disse ele com dois beijinhos.
– Essa é a minha amiga, Rute. – disse a Kátia
– Oi, prazer em conhecer você, Caio. – disse a Rute com dois beijinhos também.
Elas se sentaram na nossa mesa e pude perceber que a Kátia queria empurrar a Rute para o Caio a todo custo. Fui gostando da brincadeira. Queria que ele se divertisse e ficasse com alguém. Só pensava em fazer o Caio feliz naquela noite. Mas o Caio era muito tímido e muito ingênuo.
Teve uma hora que a Rute deu em cima descaradamente do Caio e ele não percebeu. Aí ela disse para a Kátia
– Acho que eu vi a minha amiga ali, vamos lá, Kátia?
– Tá, você quem sabe. Tchau meninos, beijos. – e saíram as duas.
O Caio voltou a beber a caipirinha e eu disse:
– Você não percebeu que aquela menina estava afim de você?
– Claro que percebi.
– Então porque você não ficou com ela?
– Não estou afim de ficar com ninguém hoje.
– Por que?
– Porque não.
– Você está chateado com alguma coisa que te fiz?
– E o que você poderia ter me feito?
– Não sei.
– Não estou chateado com você.
– Então por que está tão ranzinza hoje?
– Não estou ranzinza, só não estou afim de ficar com ninguém hoje e já te disse isso antes e também não estou afim de jogar bola porque não gosto.
– Não entendi… – disse, preocupado.
– O que quero dizer é que não gosto que insistam comigo. Quando digo não, é não. Gosto menos ainda quando digo não e a outra pessoa fica insistindo, me chamando de gay, ou de mole, ou de fraco. Sou assim fechado no meu mundinho mesmo. Não escondo de ninguém que sou tímido.
– Mas você nem é tão tímido, você é tão brincalhão.
– É para disfarçar minha timidez. Mas sempre disse desde o início que era tímido. Sempre disse isso.
– Ah, me desculpa, não queria que você se chateasse desse jeito. Achei que a gente estava se divertindo.
A Laís chegou na nossa mesa e sentou-se
– Pronto, amor, agora posso te dar mais atenção!
Depois que a Laís chegou, tudo entre mim e o Caio piorou. A Laís ficava o tempo todo me beijando e me abraçando e eu acabava deixando o Caio segurando vela, sozinho.
Felizmente aquela noite acabou. No fim da festa, perguntei se o pai da Laís poderia deixar o Caio em casa. O Caio recusou a carona e disse que iria de táxi mesmo. O que me deixou mais triste, pois estava achando que o Caio queria se ver livre de vez de mim naquela hora.
– Mas, Caio, pelo menos você não gasta dinheiro.
– Por outro lado também não dou mais trabalho para ninguém.
– Mas não é trabalho nenhum, Caio. Faço questão.
– Prefiro o táxi.
– Prefere o táxi a uma carona com o seu amigo?
– Não é você quem vai dar a carona, é o pai da sua namorada.
Ele saiu, se despediu da Laís e foi embora. No caminho para casa a Laís ainda disse para mim que tinha achado a Caio uma boa pessoa, mas que era muito calado. Ainda no caminho, liguei para ele para saber se ele tinha chegado bem em casa. Ele atendeu e disse que sim. Depois desligou rápido.
Fiquei triste para caramba. No domingo ainda liguei para ele e perguntei se estava bem. Ele disse que sim e logo deu um jeito de se despedir.
Imaginem como o meu coração ficou…
Quando foi na segunda-feira, chego bem cedo na sala de aula para falar com o Caio e ele estava conversando com o grupinho que ele sempre fica todo dia.
Ele estava feliz, ria muito e fazia todos rirem também. Me aproximo e falo com todos e depois pergunto ao Caio:
– Oi amigão, vamos conversar?
– Senta aí. – ele disse.
– Não, vamos ali no corredor.
– Agora?
– Por favor…
– Depois a gente conversa. – disse ele me dispensando.
Fiquei muito triste com a mudança dele comigo. Ele estava visivelmente querendo se afastar de mim. Maldita hora que tive a ideia de chamá-lo para aquela festa chata.