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O Garoto e o saxofone [3]

  • 7 de Setembro, 2024
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Créditos/Fonte: Um conto erótico de Marlon

Sentei no meu lugar e fiquei quieto a aula toda, morrendo de tristeza por dentro. Não poderia conceber a ideia de que o Caio estava com raiva de mim.

Não o Caio.

Porque ele, para mim, já havia se tornado meu melhor amigo em anos. Sentia que poderia contar tudo para ele e que ele, por sua vez, seria fiel aos meus sentimentos.

Sentimentos estranhos para um hétero como eu, mas ainda assim, eu o curtia muito.

Depois da aula, sinto uma mão passando nas minhas costas. Era ele.

– E aí, Marlon, tudo bem?

– Tudo sim. Por que?

– Você ficou calado a aula toda… O que houve?

– Estou chateado com você, quer dizer, comigo mesmo.

– Por quê? O que eu fiz?

– Acho que você ficou puto comigo no sábado, não?

– Não, não fiquei. Só estava meio estressado.

– Por quê?

– Ah, nada não, não quero falar sobre isso.

– Ah, mas você sabe que pode confiar em mim né? – perguntei, preocupado.

– Sei, sei sim, mas não estou afim mesmo de falar sobre.

– Respeito isso.

Bom, fizemos as pazes. O sorriso voltou a estampar meu rosto e fomos todos para a lanchonete da faculdade. O Caio fez o que sempre fazia: derrubava todo mundo na gargalhada e ainda se fazia de inocente, o que dava até mais charme para as palhaçadas dele. Ele sempre soltava uma piadinha e no final perguntava se fazendo de bobo: “O que foi que eu disse?”, “Por que vocês estão rindo tanto, não disse nada demais!”.

Adorava quando o Caio fazia isso. Ele fazia de um jeito em que realmente passava a impressão de menino-bobinho, principalmente pelo rostinho de menino que ele ainda mantinha, mas todos sabíamos das malícias daquele garoto que encantava o meu coração de hétero.

Os dias foram passando e não tinha como não notar que a nossa amizade crescia muito. Mais que o normal. Na sala de aula, quando os professores passavam trabalho em dupla, ninguém mais ousava convidar o Caio para trabalhar junto, porque sabiam que era comigo que ele iria fazer.

Tinha até pessoas que me pediam para eu deixar que o Caio fizesse o trabalho com elas, mas é lógico que eu dizia não. Não ia perder a oportunidade de ver o Caio fora da sala de aula. E fora da faculdade ele era ainda mais engraçado e mais íntimo de mim. Era quando estávamos sozinhos que sentia mais vontade de contar todos meus segredos para ele e ele sempre retribuía com sábios conselhos. Ele era muito inteligente para isso e, apesar de termos a mesma idade, aparentemente ele era bem mais maduro e mais vivido, mesmo com aquele corpo de garoto de quinze.

Só que isso era contrastante com vida fechada que levava. Como ele poderia ser mais vivido se vivia menos que qualquer adolescente na sua idade? Saía pouco, era tímido e fechado. Eu mesmo achava o Caio uma enorme interrogação. Mesmo que com o tempo tivesse começado a aprender o que ele estava pensando, de acordo com a expressão que fazia para mim, ainda haviam muitos mistérios.

Isso me deixava agoniado. Queria saber tudo dele. Tudo. Era fã incondicional dele.

Bom, a amizade crescia e as pessoas ao meu redor começaram a perceber isso. Meu pai sempre falava para ter cuidado, porque o Caio parecia muito gay para o gosto dele. Nem dava bola. O Caio sempre estava lá em casa e eu vivia enfurnado na casa dele. A gente passava horas e horas no MSN.

Outra pessoa que começou a notar isso foi a Laís. Ela também achava que ele era gay, mas também não me importava com o que ela achava do Caio. Mas ela, ao contrário do meu pai, não achava que ele estava afim de mim. Ainda.

Mas tinha uma coisa que me chateava muito no Caio, ou em mim. Quando estávamos só nós dois era tudo perfeito: ríamos, cantávamos, jogávamos videogame… Enfim, era tudo divertido.

Mas quando estávamos com o pessoal da faculdade, ele parecia inalcansável. Não conseguia participar das brincadeiras dele. Ele não me excluía, mas era como se eu não conseguisse entrar na onda de todos os presentes.

Quando ele estava com a Claudinha principalmente aí é que eu não conseguia chegar mesmo, porque eles pareciam muito amigos e às vezes a Claudinha dizia alguma coisa que o fazia rir, mas eu não fazia ideia do que eles estavam falando. Quando perguntava sobre o que eles estavam rindo, o Caio respondia que tinha sido alguma coisa que aconteceu quando os dois tinham ido ao shopping, ou quando eles tinham ido à praia, ou em um barzinho… Enfim, percebi que eles tinham muito em comum e que saíam muito sem mim.

Na verdade saíam muito sem eu ficar sabendo e isso me deixava com mais raiva, porque era nesses momentos que me sentia excluído da vida dele.

Mas a explicação que o Caio tinha para essas saídas sem mim eram bem plausíveis, tanto é que nem poderia culpá-lo por isso.

Quando eles saíam sem mim era porque ou eu estava com a Laís, ou estava com os meus amigos antigos, que por sinal não me deixavam mais tão feliz como o Caio deixava.

Diante dessas explicações, só poderia aturar aquilo tudo com uma dor no peito.

Como eu queria ter o Caio só para mim. Mas claro, quando pensava nisso, pensava em ter o Caio em casa para gente jogar videogame, ou falar besteira, ou no MSN.

Ainda sonhava que era hétero.

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