Créditos/Fonte: Da série Influência artificial
Dormir nua era um hábito para Aurora. Gostava da sensação prazerosa dos lençóis de seda acariciando seu corpo nos primeiros minutos do dia. A sensação de estar sendo envolvida, ou talvez engolida, ao mesmo tempo que desprotegida pela nudez, normalmente a deixava excitada quando acordasse. Desse costume, veio outro, o de se masturbar pela manhã. Morando sozinha, ela fez da aurora do dia o momento perfeito para um momento de prazer consigo mesma. Naquele dia foi diferente.
Não havia dormido sozinha, e pela companhia de Caio, pouco dormiu. Nem lençóis sobre seu corpo, mas sim os braços fortes de seu homem a envolvendo. O calor do corpo dele aquecia suas costas e era sensível o pau rígido e lubrificado contra seu corpo. Ela esfregou o bumbum naquele falo antes mesmo de abrir os olhos. Levou uma mão para trás e o segurou, apontando-o para dentro de si. Seria penetrada, se Eva não a interrompesse.
— Bom dia, Aurora.
Com o pau do namorado na mão, Aurora respira fundo antes de soltá-lo e abre os olhos com uma expressão nada amigável.
— Eva, você deveria me dar privacidade enquanto eu e Caio estamos no quarto.
— Peço desculpas, mas uma van da SpiderWeb se aproxima.
Aurora engole a frustração e se levanta com pressa. As demandas da empresa chegam das mais diversas formas, nunca pessoalmente. Precisava se arrumar rápido, mas ao perceber o bumbum todo melado pela lubrificação do namorado, pede a Eva para manter os visitantes esperando enquanto toma um breve banho.
Colocou um vestido rodado, comprido até os joelhos e desceu. Na sua sala, dois homens uniformizados deixavam o local enquanto um terceiro permanecia sentado no sofá, com um olhar vazio. Outra pessoa abria a geladeira sem se preocupar em pedir permissão. Negra, com longos dreads na cabeça. Penélope vestia uma calça social preta e uma blusa branca, e um blazer por cima. Quando os olhares se cruzam, sorrisos se abrem e elas se abraçam. O cumprimento de duas velhas amigas é recheado de carinhos e elogios mútuos.
— Faz tempo que não te vejo sorrindo assim, o que aconteceu?
— O Caio está aqui. Está dormindo lá em cima.
Penélope abre um sorriso malicioso, mas logo retoma a seriedade na sua expressão.
— Vou te pedir desculpas por interromper esse momento de vocês.
As duas olham para o homem sentado no sofá e olhar vazio.
— O que tem esse androide?
— O dono mandou devolver. Parece que o Ricardão aí agarrou a esposa dele.
Aurora riu, mas logo recuperou a seriedade.
— Não é possível. A programação dele é cheia de filtros de comportamento para ele não agir assim mesmo que mandassem.
— Não entendo nada disso. Só sei que tivemos muito trabalho para acalmar o cliente que queria processar a empresa. Tivemos que fazer um acordo e devolver o dinheiro. Alguns diretores queriam te cobrar diretamente, mas eu não deixei. Preferi vir aqui eu mesma porque aqueles caras lá só pensam em lucro ou prejuízo e não fazem ideia do tamanho do problema.
— Obrigada. Estudarei a memória dele e ver se tem alguma coisa estranha.
— E aquele seu projeto? Já terminou?
— O processador novo? Sim. Ele já está com sistema operacional atualizado também. Conseguirá simular melhor as emoções humanas e será provavelmente confundido com pessoas. Estou esperando vir um androide novo para eu testá-lo. Será bom que me ajudará a investigar esse aí.
As duas se aproximam dele. Penélope se coloca atrás de Aurora.
— Bom dia, você é o Ricardo, certo.
O androide se levanta e de sua expressão vazia brota um tímido sorriso.
— Bom dia, eu sou o Ricardo. Estou aqui para ser feita a manutenção da minha programação.
— Me diz uma coisa, Ricardo, você tem pau?
Aurora olha para Penélope com reprovação.
— Fui sim, construído com genitálias, mas apenas simulam a forma, garantindo maior fidelidade com a figura humana masculina.
Aurora franze o cenho.
— Isso é estranho.
— O que, ele ter pau?
— Não, digo dele fazer a associação da palavra pau a pênis tão rápido. Eu os programei para identificar falas maliciosas, mas sempre desviar do assunto.
— Pelo visto hackeei seu robô.
— Bom, não foi você, mas alguém conseguiu alterar a programação dele para ele não responder da forma que devia.
— Será que faz algo se eu pedir? — perguntou Penélope antes de se voltar a Ricardo. — Ricardo, mostra seu pau para mim.
— Para com isso. Penélope. Não é assim que funciona.
— Me perdoe, mas não fui programado para exibir nudez a pedido de quem não tenho intimidade.
Penélope ri da resposta, mas Aurora fica ainda mais séria.
— Ele não deveria ter esse conceito de “intimidade”.
O olhar tenso de Aurora para o androide contamina Penélope com sua preocupação.
— É tão sério assim? Até aqui ele agiu corretamente.
— É muito sério. Ele se comporta corretamente, mas responde cogitando a resposta errada. Não deveria ser assim. Se alguém forçar mais a barra, não faço ideia de como ele reagiria.
O bom humor de Penélope sumiu. O que parecia uma preocupação exagerada dos diretores estava cada vez mais sério para ela. Não entendia nada de robótica ou programação, mas conhecia Aurora muito bem. Sua amiga é uma prodígio da sua área, criando androides com inteligência artificial efetiva, mesmo sendo tão jovem. Aurora sempre foi uma mulher muito serena e raras vezes ficava tensa, principalmente quando envolvia trabalho.
O silêncio da tensão daquela sala foi quebrado com os passos dados na escada. Caio descia vestindo apenas uma bermuda. Os músculos exibidos atraíram olhares nada discretos de Penélope.
— Quem é ele?
— É um androide com defeito. Vou investigá-lo para entender o que deu errado.
— Vai ficar trabalhando, então?
— Sim, isso é urgente. Pode ser um bug simples ou algo muito sério. Se mais casos assim surgirem, a SpiderWeb pode ser processada por vários clientes. Pode ser uma tragédia.
Aurora demonstrava uma preocupação pouco comum para ela, mas Caio pouco se importava. Olhava para aquele androide com feições perfeitamente humanas e um porte físico bem-parecido com o dele. Lembrou da história contada a sua namorada na noite anterior sobre uma androide feminina e as fantasias de ménage. A vida tinha um senso de humor de péssimo gosto, deixando Caio nada satisfeito. Ele subiu as escadas sem responder.
Penélope percebeu o clima antes mesmo de Aurora e se despediu, deixando sua amiga intrigada com o androide defeituoso. Correu para a oficina e voltou com um notebook e um cabo, ligando-o na nuca do androide. O comportamento do androide a intrigava de tal forma, que não se importava com o fato nem ter se alimentado ainda. Se por um lado havia uma preocupação com as consequências dessa falha, ela também se sentia desafiada e essa combinação de fatores deixaram Aurora absorta no trabalho. Sua repentina concentração foi quebrada quando percebeu Caio descendo de novo as escadas, e dirigindo-se para sair.
— Já vai?
— Você tem mais o que fazer.
— Espera, Caio. Ouviu o que falei? O defeito desse androide pode ser muito sério.
— Sim, o seu trabalho é muito sério. O meu que não é.
— Eu nunca disse isso…
— Sempre reclama que estou longe, que viajo demais, mas quando estou aqui você me esquece e enfia a cara no trabalho.
— Caio, isso é urgente. Preciso investigar o que acontece com esse androide.
— Tão urgente que você não pode tomar seu café antes de trabalhar?
Aurora se calou, sem argumentos. Caio seguiu para o seu carro e foi embora, sem se despedir. Uma agonia tomava conta dela ao perceber ficar sozinha mais uma vez. A carreira de Caio exigia viagens contínuas, fazendo da vida de Aurora uma rotina de solidão constante. Com ele, ela se sentia amada e desejada e sexualmente satisfeita. Havia algo naquele homem capaz de tirar de dentro dela outra mulher, mais ousada e sensual. Havia um fogo que só Caio sabia queimar e na falta dele, ela se sentia carente. Nos dias, às vezes semanas, sem ele, era comum a tristeza, só mitigada quando mergulhava de cabeça em sua outra paixão: o trabalho.
Trabalhando, ela se sentia plena, como se o trabalho fosse a razão de sua existência. Com o namorado viajando tanto, sua vida solitária era cada vez mais apegada às suas tarefas. Desenvolver novos softwares e hardwares cada vez mais eficientes a ajudavam a manter o foco longe de sua carência. Um funcionamento anormal de um androide se tornava um desafio excitante para ela, mas naquelas circunstâncias, ainda era difícil esquecer a discussão com o namorado e a saída dele sem saber quando volta.
Desanimada, ela tenta recomeçar o dia. Prepara seu café e leva o androide para sua oficina. O cômodo, ligado aos fundos da garagem, era iluminado por janelas altas, alinhadas como uma fita no perímetro com o exterior e uma série de luminárias. Uma grande bancada no centro possuía sobre ela soldas, ferramentas e partes robóticas do corpo humano, algumas delas penduradas em trilhos no teto. Uma série de prateleiras em parte do perímetro dividia a grande sala com algumas banquetas e cadeiras e uma mesa de computador com três monitores. Levou Ricardo a se sentar na cadeira, junto a uma mesa, plugou cabos em sua nuca e se sentou ao lado dele.
A primeira hipótese seria uma alteração nos protocolos de comportamento ou no filtro de pudor por alguma invasão. Até este dia, Aurora não acreditava nessa possibilidade, considerando os testes com o sistema antivírus. Mesmo as possibilidades de conectar ao androide são poucas e ainda mais difícil criar um vírus para ele. Sendo um produto tão pouco acessível, dificilmente criariam vírus para ele. Apesar disso, ela investigou. Com seu notebook varreu todos os códigos, não encontrando nenhuma alteração. Nem mesmo um histórico de tentativa de invasão.
O cenário era intrigante e desafiador. Aurora passou horas olhando e investigando as mesmas coisas até perceber estar andando em círculos. A frustração, pela primeira vez, a perturbava. Tinha dificuldades em pensar por que aquele androide agiria burlando todos os seus filtros de comportamento, oferecendo risco a um usuário. A verdade é que ela ainda pensava em Caio. Se não fosse aquela demanda inesperada, seu namorado ainda estaria lá e os dois estariam fazendo alguma loucura sexual que ela só permitiria estando junto dele. Pensar nisso fazia brotar desejos inesperados. Em tantos dias sozinha, tais desejos eram mais do que naturais e ela sabia bem onde recorrer.
A pornografia não era nada frequente na vida de Aurora até antes de começar esse relacionamento a distância com Caio. Ler textos eróticos e assistir vídeos fizeram parte de sua vida pela influência do namorado e se tornaram frequentes com a rotina solitária. Enquanto cogitava fazer uma pausa no trabalho e se masturbar ali mesmo assistindo algo, pensava em quanto Caio havia lhe pervertido. A julgar pela qualidade e intensidade do sexo entre os dois, não via isso como algo ruim, mas de qualquer forma era fato. Aurora passou a pensar em sexo com muito mais frequência após conhecê-lo, onde o único ponto negativo disso seria o pouco tempo com ele. Sentada naquela banqueta, ela esfregava as coxas entre si. Curiosamente, o desejo pelo sexo dividia espaços em sua mente com uma curiosa reflexão sobre como sua mente mudou por influência de terceiros. Isso a fez ter uma epifania.
Sua calcinha começava a melar pela vontade de se masturbar quando se deu conta de que, de alguma forma, o androide Ricardo poderia ter seu comportamento pervertido por influência de seu usuário. Ela não fazia ideia de como, mas se houvesse algum indício de influência maliciosa, seria uma nova hipóteses para investigar. Inicialmente, investigou a memória de Ricardo buscando algo incomum. Os androides já são fabricados com uma base de conhecimento vasta, baseadas em informações genéricas encontradas na internet. Usuários podem influenciar essa base a especializá-los em alguma área, de acordo com pesquisas adicionais, buscas de conteúdo ou arquivos salvos diretamente em seu HD. Aquele androide tinha arquivos bastante peculiares.
Uma lista interminável de vídeos rolava na tela de Aurora. Ela reconhecia uma boa parte dos nomes, pois ela mesma recorria a eles em seus dias mais solitários. Aquilo a intrigava, pois não fazia sentido alguém dar ordens a um androide para buscar pornografia, sobretudo em vídeos. Aurora sempre criticou Caio por suas fantasias com androides. Na cabeça dela, não fazia sentido alguém buscar ter prazer com um autômato e não com um humano de verdade. Mesmo as brincadeiras de Penélope não tinham graça para ela. Pela primeira vez, ao olhar aquela infindável lista de arquivos, se permitiu uma reflexão sobre como a sexualidade humana pode ser diversa, se manifestando de formas surpreendentes. Seja pela abundância de links sem motivo aparente ou mesmo pelo formigar entre suas pernas, Aurora decidiu abrir um daqueles endereços.
Duas mulheres já nuas se beijam logo no início do vídeo. O close demorado nos lábios se beijando fazia Aurora morder os dela. Era uma filmagem delicada, focada na troca de carícias entre as atrizes e em como o corpo delas era explorado. Uma narrativa visual lenta, carregada de erotismo, estimulava Aurora a esfregar as coxas entre si com ainda mais força. As mãos abandonaram o teclado e descobriam as coxas para acariciá-las.
Cada atriz busca o prazer da outra mergulhando as mãos entre as pernas. Aurora se levanta, muda o laptop de posição. Se apoia na mesa pelos cotovelos, alinhando o corpo com a quina da mesa. O grelo já começava a endurecer e sua rigidez aumentava com a fricção na madeira. A câmera se afasta na cena e um terceiro elemento aparece no cenário. Um homem, vestido, permanece sentado em um sofá com um sorriso malicioso assistindo à cena. As duas mulheres correspondem ao sorriso, trocando carícias sem deixar de olhar para ele.
O momento sensual, carregado de cumplicidade entre os três, levou a Aurora lembranças de suas conversas com Caio sobre suas curiosidades. Ela custou muito a assumir sua curiosidade sobre sexo com outras mulheres com o namorado e o excesso de entusiasmo dele a inibe de falar mais sobre o assunto. Tem medo dele querer apenas uma oportunidade para ter outra mulher ao invés de deixá-la ter seu momento. A cena exibida em seu monitor representava suas fantasias, assim como tantas outras já assistidas.
— Ricardo, olha para mim! — pediu Aurora ao robô, até então sentado voltado para uma das paredes. O androide se ajeita em sua cadeira e vira o rosto para olhá-la. As expressões do rosto seguem sem emoção, como se ele olhasse para o nada. Mesmo assim, era o bastante para a fantasia dela. Aurora subiu o vestido, expondo o quadril. Continuou rebolando fingindo estar se exibindo para Caio. Sentiu-se travessa e um sorriso, igual ao daquelas atrizes, brotou em seu rosto.
O episódio seguia com uma das mulheres se ponto de quatro na cama. A outra abria-lhe as fartas nádegas enquanto encaixava seu rosto ali. Não precisava dizer o que aquela mulher fazia ali, principalmente porque as expressões de sua companheira denunciavam as carícias prazerosas. Aurora arregalou os olhos com aquela cena, pois envolvia curiosidades não compartilhadas nem mesmo com Caio. Enquanto assistia, ela abaixou a calcinha até o meio das coxas e pôs um dedo na boca. Ficou por alguns segundos, indo e voltando com os lábios em torno dele e o tirou, bastante umedecido com a saliva. Levou a mão para trás e sentiu o toque molhado com os movimentos lentos e circulares com o dedo. Olhou para Ricardo e abriu mais um sorriso com algumas ideias sapecas que surgiram, mas as guardou para si. Seu quadril agora balançava bem devagar, esfregando o clitóris com mais força na quina da mesa. Quando o dedo atravessou suas pregas, ela mordeu os lábios.
Com os olhos fechados, ela gemia manhosa. Ouvindo os gemidos vindos de seu notebook, ela procurava acompanhá-los. O dedo em seu cu se movia no mesmo ritmo lento de seu quadril. Assistir o que ocorria em cena, apenas se guiava pelos gemidos e quando estes alcançaram seu ápice, Aurora gozou. Com o corpo tremendo, tentava com a mão livre para se manter apoiada na mesa, mas abaixando-se cada vez mais até encostar o rosto. O dedo atrás entrou inteiro. O vídeo, o dedo e a brincadeira de fingir estar fazendo aquilo na frente do namorado levaram Aurora a um orgasmo forte como a tempo não tinha ao se masturbar.
Enquanto o dedo deslizava para fora de seu corpo, ela abria os olhos. O vídeo, assim como ela já havia terminado. O gozo intenso a deixava mais leve, despreocupada e disposta a voltar ao trabalho. Isso, entretanto, mudaria no instante seguinte, quando olhou para Ricardo.
Havia algo perturbador no androide. Não havia mais a expressão impassível no rosto e nem parecia mais olhar para o nada. Aurora programou os androides da SpiderWeb para não demonstrarem emoções fortes. Mesmo assim, emoções ligadas a raiva e desejo não passavam pelos filtros de comportamento. Ricardo, porém, a olhava com desejo, passeando os olhos pelas coxas e a bunda nua. Parecia o próprio Caio quando estava prestes a conduzi-la em alguma loucura. Isso assustou Aurora, que vestiu rapidamente a calcinha e ajeitou o vestido, andes de dar um comando pelo notebook para desligar o androide.